Dia 7 – Cambará do Sul – Cânion Itaimbezinho

Acordei a tempo de pegar o café da manhã do Hotel Veneza, bem bacana. Básico, mas bacana. Na noite anterior, eu tinha perguntado ao gerente do hotel sobre como ir para Cambará do Sul, mas ele não conhecia nada, nunca sequer ouvira falar. Logo após o café me levou em uma mesa na calçada onde vários caras conversavam, e disse que um deles era caminhoneiro e conhecia tudo, me apresentando como o viajante solitário que não sabia para onde ia (tô brincando, gente boa o coroa).

Expliquei o que eu queria, e o que eu tinha visto nos mapas. O caminhoneiro me disse para fazer um caminho que era 60Km mais longo, mas por onde eu evitaria estradas de chão. Falou nomes de rodovias e cidades. Eu, que sou bem perdido, achei que tinha entendido, agradeci. Mas depois iria ver que entendi foi nada.

Subi, arrumei as tralhas, coloquei na moto, lubrifiquei a corrente… vambora. Rumei para a BR-101, passando pelas pequenas cidades de Forquilhinha, Maracaja, Ararangua, Sombrio e Santa Rosa do Sul. Daí comecei a criar meus futuros problemas…

Não sabia exatamente onde estava, parei no acostamento, e fui colocar no GPS do celular o caminho até Cambará do Sul/RS. Vi a rota, segui viagem. Parei de novo, verifiquei o celular novamente… tinha passado da cidade onde eu teria que entrar. Por sorte tinha um retorno na BR-101 não muito longe, e voltei até São João do Sul/SC, atravessei a cidade e parei para abastecer (2.131 Km rodados).

Perguntei ao frentista, e ele confirmou que aquele caminho estava certo, e que havia uns 15km de estrada de chão. Epa! Já percebi que fiz besteira e peguei a rota mais curta e difícil, e tinha decidido antes que pegaria a mais longa e fácil. Agora já era, nada acontece por acaso, certo?

Segui até a cidade de Praia Grande/SC, até que cheguei em uma encruzilhada na qual acabava o asfalto, com três caminhos de estrada de chão. Consultei o GPS. Indeciso, sinalização confusa. Nisso, para um Jeep com placa do Rio Grande do Sul, perguntando como fazia para pegar a trilha não lembro do quê. Eu ri, e disse que estava ali perdido também.

As placas indicavam rota dos cânions, fazendas, rios… nada de nomes de cidade. Escolhi uma delas e segui, a mesma que o pessoal da Jeep segui. Até que não era um offroad pesado, então estava tranquilo. Após uns quilômetros dei de cara com um rodeio, ou algo assim, essas competições de laçar touro, sei lá. E logo volta o pessoal do Jeep dizendo que ali estava errado. Perguntei para um cara vestido de boiadeiro, que disse que não sabia pra onde era Cambará do Sul, mas que sabia que por ali não era.

Rodeio, não gosto
Rodeio, não gosto

Voltei para a encruzilhada. Escolhi o segundo caminho. De novo dei de cara com o Jeep voltando. Mas dessa vez eles confirmaram, aquele era o caminho para Cambará do Sul mesmo, mas eles já tinham feito aquela rota e queriam conhecer outro lugar. Mas era o trajeto certo pra mim.

Pessoal do Jeep, também perdidos, gente boa
Pessoal do Jeep, também perdidos, gente boa

O caminho começou com pequenas retas de asfalto, e nas curvas, acabava o asfalto e virava estrada de chão com muitas pedras. E ficou assim, asfalto na reta, pedras na curva, asfalto na reta, pedras na curva.

No começo mesclava asfalto e off road em pedras...
No começo mesclava asfalto e off road em pedras…

Pensei que se fosse assim o tempo todo estaria bom, dava para andar mais rápido nas retas, e fazer as curvas offroad com segurança. Após alguns quilômetros, porém, nada mais de asfalto. Só offroad com pedras para todo lado. Nas retas e nas curvas.

Depois, só pedras, muitas pedras...
Depois, só pedras, muitas pedras…

Segui lentamente, já com pena da moto e medo de danificá-la. E aquela estrada offroad não acabava nunca! Eu já não conseguia mais nem apreciar a natureza em volta. Foi muito cansativo. Fiquei mais de 1 hora rodando devagar por cima daquelas pedrinhas chatas, a moto quicando, a coluna já doendo.

A motoca sofreu nesse terreno…
Mais uma divisa atravessada. Malditos pichadores, poluindo o visual...
Mais uma divisa atravessada. Malditos pichadores, poluindo o visual…

Até que cheguei na divisa dos estados de SC e RS. Parei, tirei fotos, voltei pra moto. Descansei um pouco para poder encarar mais um longo trecho de tortura.

Terreno cansativo para pilotar...
Terreno cansativo para pilotar…

Depois de mais uns quilômetros, passei na entrada do Parque Nacional Aparados da Serra, onde havia uma placa, finalmente, indicando Cambará do Sul. Achei que estava perto, mas ainda tive que fazer aquele offroad em pedras por mais 20km!

Entrada para o Parque, estrada para Cambará
Entrada para o Parque, estrada para Cambará

Cheguei em Cambará do Sul totalmente destruído. E comecei a procurar hospedagem. A cidade vazia. Até que passei por um lugar com uma placa onde dizia “Hospedagem Econômica”. Ah, era ali mesmo.

Acabei encontrando o responsável pelo local, a Pousada Alvorada, após perguntar e receber a ajuda de um pessoal da agência de turismo vizinha. Custava R$ 30,00 o pernoite. Pedi pra ver o quarto, e resolvi ficar. Apesar de bem rústico, era limpo, só não tinha internet pra eu poder decidir o que fazer no dia seguinte. Mas fiquei, não queria mais gastar tempo procurando hotel.

Meu quarto na Pousada Alvorada, de bom tamanho
Meu quarto na Pousada Alvorada, de bom tamanho

Tirei a bagagem da moto, e fui explorar a região, ainda faltavam pelo ao menos duas horas para escurecer, daria tempo de conhecer os cânions, os quais, pelo que eu tinha entendido, ficavam não muito distantes. Tentei me informar em um botequim, aonde tinha um pessoal bebendo e vendo futebol. Não me deram atenção, comprei uma garrafa d’água e saí fora.

Um senhor passava pela calçada quando eu já subia na moto e arrisquei perguntar a ele como chegar nos cânions. Ele foi simpático, diferentemente do pessoal do bar. Me disse como ir para o Cânion Itaimbezinho ou para o Fortaleza. Como o Itaimbezinho era mais perto, resolvi ir nele.

Quando eu já fazia o caminho indicado, fui olhando as placas e percebi… eu estava voltando pela estrada por onde eu havia chegado! Ah, não. Não acredito, passei em frente ao cânion que eu queria ver, não percebi, e agora vou ter que voltar? Por aquelas pedrinhas maledictas!? Que se dane, agora pelo ao menos a moto estava leve, sem os alforges e com o baú vazio, eu fui.

Fim do perímetro urbano em Cambará, de volta às pedrinhas...
Fim do perímetro urbano em Cambará, de volta às pedrinhas…

Segui pilotando, todo quebrado, mas fui. Com a moto sem bagagem as coisas ficaram menos difíceis, mas não fáceis. Depois de 20Km rodados, não vi nada de cânions de novo. Resolvi perguntar em uma cabine na entrada do Parque, e o guardinha disse “Sim, o cânion fica aqui dentro”. Putz! Se eu soubesse, se eu tivesse programado a viagem um pouquinho, ou se eles resolvessem colocar uma bendita placa informando… bom, deixa pra lá.

Sede do Parque Nacional de Aparados da Serra
Sede do Parque Nacional de Aparados da Serra, bacana.

Chegou então uma mulher que trabalha na segurança da área de preservação, disse que ainda faltava duas horas para o parque fechar, e que o dia estava lindo, e que se fosse eu entraria pois valeria a pena. Era só alguns minutos de caminhada… Epa! Caminhada? Ai ai… tive que decidir. Não tinha muito tempo de luz do dia ainda, e fazer os 20km de offroad nas pedras para voltar à noite seria punk. Mas eu já tinha ido até ali. A guarda me deu a maior força, colocou pilha para eu aproveitar o fim do dia ali… paguei a entrada, fui até o estacionamento, deixei a motoca e segui a pé.

Cânion Itaimbeziniho, animal !
Cânion Itaimbeziniho, animal !

Realmente, o cânion é lindo, impressionante, monstruoso. Revendo as imagens nas fotos que tirei, não dá pra ter noção da grandiosidade que é aquilo. Valeu a pena ter ido lá. Queria ter ido mais cedo para ver mais coisas. Se eu tivesse feito o caminho asfaltado talvez tivesse tido mais tempo lá, mas as coisas aconteceram como tinham que acontecer numa viagem sem planos como essa, normal.

O visual é alucinante visto ao vivo...
O visual é alucinante visto ao vivo…
Show de bola !
Show de bola !

Fiquei por lá caminhando por 1 hora, deu pra ver um pouco da beleza natural do local. Voltei para a moto e fui embora. Offroad, no meio do caminho já tinha anoitecido. Cheguei de volta na cidade bem, mas já tudo escuro e sem viv’alma nas ruas.

Iniciando a volta para Cambará, fim do dia
Iniciando a volta para Cambará, fim do dia

Retornei pra pousada, tomei um bom banho, e voltei pra rua, a pé, procurar o que comer. Aberto só havia o botequim onde não fui bem tratado, e uma pizzaria.

Se chama Pizza Retrô, e tinha um visual bem bacana. A decoração é toda relacionada a discos de vinil, e um toca discos fica lá disponível para os clientes escolherem o que querem ouvir dentro do catálogo deles. Bacana o clima.

Pizzaria Retrô em Cambará do Sul
Pizzaria Retrô em Cambará do Sul

Pedi uma pizza e cerveja. Cerveja só tinha Bohemia, teve que ser essa mesmo. A Pizza, sinceramente, não gostei. Parecia aquelas massas que vendem em supermercado, e estava ressecada, com cobertura no estilo portuguesa bem sem graça e pouco generosa. Talvez não tenha dado sorte, por ser um domingo depois que a massa de turistas já foi embora, e a qualidade normal seja maior. Uma pena. Gastei R$ 47,00.

Voltei pra dormir, um pouco insatisfeito com o resumo do dia, mas bastante feliz por ter conseguido vencer horas de off road com a moto carregada sem problemas, e por ter visto ao vivo a impressionante geografia local. Vale voltar lá um dia!

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Comentários são bem vindos, inclusive dúvidas que eu saiba responder. Por questão de organização, comentários sobre a viagem ao Uruguai estarão concentrados no primeiro artigo que pode ser acessado aqui: Viagem de Moto do Rio ao Uruguai – Apresentação. Obrigado pela vista!